Ela & Ele no escuro

1 08 2010

– Acabou a força.
– Eu notei.
– A força. Caiu.
– Eu percebi. Cinco minutos pra acabar o filme, puta falta de sacanagem, dá pra largar meu braço? Vai cortar minha circulação.
– Não, não dá. Eu tenho medo de escuro.
– E eu não sei? Meu braço. Tá apertando.
– Liga lá.
– Lá onde?
– No… como chama mesmo? Não faz essa cara.
– Tá escuro, como você pode saber a cara que eu tô fazendo?
– Conheço sua cara quando eu esqueço o nome de alguma coisa. Aquela cara de “burra pra caralho”.
– Na verdade é algo mais “não tenho bola de cristal, inferno” MEU BRAÇO!
– NÃO GRITA COMIGO!
– NÃO TÔ GRITnão tô gritando, e não me belisca, poxa. É CPFL. E não precisa, seu vizinho é pior que você, já deve ter ligado.
– Sim, mas eu não sou meu vizinho e quero a força de volta.
– Quer que eu faça o quê? Cuspa vagalumes?
– TEM BARULHO AQUI!
– Não pula em mim, criatura histérica! Tem vela na despensa, eu vou pegar!
– Isso, vai, NÃO VAI! Não me deixa aqui!
– Então vem comigo!
– Não… tá escuro…
– E você quer que eu pegue a maldita vela como?
– Usando A Força?
– Mas tá sem força.
– A Força de Star Wars.
– Igual a que você tá fazendo no meu braço. Quer que eu deixe ele aqui com você, enquanto pego a vela?
– Haha, gracinha. Vai, mas volta logo.
– Conta até trinta, antes de vinte e nove, eu tô de volta.
– Então por que trinta?
– Oi?
– Se você vai voltar antes de vinte e nove, por que contar até trinta?
– Só… só me espera. E conta. Ó. Celular aqui, usa de lanterna.
– Tá… mas volta logo. Um… dois… três… não é meu celular esse… cinco, seis, sete, ih, tem mensagem não lida… nove, dez, onze, doze, treze, catorze… quem é Luísa?, quinze, dezesseis, dezessete, que bar, meu santo?, vinte, vinte e um, ah, eu vou arrebentar esse filho da mãe quando a energia voltar, vinte e cinco, vinte e seis QUE QUE É ISSO???
– CALMA, NÃO PRECISA ME BATER! Sou eu, sou eu! Ó, ó, velas e isqueiro, ó, pronto, acendi, luzinha, sossega.
– Quem é Luísa e que bar é esse que foi tão legal ontem?
– Não… sei…?
– Não sabe? Quer ajuda pra lembrar?
– Mas… eu… não saí de casa ontem.
– Então como a Luísa achou a noite tão boa?
– Considerando que eu não sei quem é Luísa… NÃO ME BELISCA!
– NÃO SE MEXE TANTO! VAI APAGAR A VELA!
– A vela tá na mesinha, não vai apagar enquanto eu tento não ser acertado por você! Cacete, como consegue essa mira no escuro?
– Prática. Anda, conta logo.
– Deve ser mensagem errada. Acontece. Um numerozinho errado e pronto!, a Luísa mandou a mensagem pra quem conheceu ontem, e a pessoa não vai receber. Poda ser o grande amor da vida dela, e ela não vai saber, porque a mensagem vai ficar sem resposta. Se ela não insistir, pode ter arruinado toda a vida amorosa e possivelmente a auto-estima. Tragédia. Apaguei a vela.
– EU NOTEI! Acende, anda.
– Pronto. Tá, resmungou por que?
– Fiquei com dó da Luísa agora, coitada.
– É mensagem errada, a gente nem sabe quem essa aí é.
– Mesmo assim, o futuro que você imaginou pra ela não foi legal. Coisa feia, isso!
– Coisa feia eu ter montado uma situação hipotética sobre uma pessoa que a gente não conhece e nem sabe se merece nossa compaixão?
– Toda mulher que espera um telefonema merece compaixão. Ou condolências. Tanto faz.
– Deixa pra lá. Vem cá. Aproveitar a luz de velas ah, legal, agora a luz volta. Pelo menos tem o final do filme.
– Não, agora espera.
– Esperar o que?
– Vou ligar pra Luísa.
– Vai o QUÊ?
– Ligar pra Luísa, coitada. Explicar o que aconteceu. Eu volto já, rapidinho!
– Tá, vai. Enquanto isso eu fico aqui, sozinho… abandonado pela outra. Minha mulher foge de mim pra ligar pra desconhecidas. Ih, acabou a
– ACABOU A FORÇAAAAA!


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Uma resposta

5 08 2010
bellz

liga pra luísa, liga pra ela coitada HAEUHAEUAEHAEUAEHUAEHU
adorei, Mahh *O*

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